FAB15: Aprender e Partilhar

“Give ordinary people the right tools, and they will design and build the most extraordinary things.”1

Neil Gershenfeld, Fab 15, El Gouna, Egypt.

Como nota de abertura, este é um resumo [muito] incompleto do Fab15. Foi absolutamente impossível estar em todas as atividades, dada a grande diversidade e, já agora, qualidade de ofertas de workshops. (https://fab15.fabevent.org/schedule)

O registo no FAB15 foi iniciado em festa, no dia 28 de julho, em El Gouna, uma cidade turística, 700 km a Sul do Cairo. Para além do habitual encontro de culturas e conhecimentos, houve muita conversa informal, reencontros e animação.

No dia seguinte, depois das diversas apresentações da organização, dando um contexto ao encontro, Neil Gershenfeld começou por nos convencer de que estamos no meio, não de uma revolução, mas de uma evolução, análoga à que houve com a evolução do número de chips, chamada Lei de Moore. Agora, com a fabricação digital. temos de passar para a Lei de Lass (Sherry Lassiter): em dez anos têm vindo a duplicar (https://www.thedigitalfactory.com/videos/from-moores-law-to-lass-law) .

E continuou, os Fab Labs têm dois caminhos importantes a percorrer: um, os denominados “one million dollar Fab Labs”2 que darão suporte e robustez à comunidade e, por outro, os Fab Labs locais que podem gozar do apoio daqueles. Convidou a apresetnação de exemplos com os de Nádia Peek (Machines that make machines); do Daniel Ingrassia, com a sua gigantesca laser, que mais parece um tanque de guerra, o qual descreveu os processos de construção baseados na sua estratégia de “over engineering” de modo a garantir a robustez, precisão e baixo custo; ou ainda, projectos como os do Jens Dyvik (Fabricatable Machines), que darão flexibilidade e facilidade em espalhar este ambiente FAB LAB e respectivo conhecimento envolvido; ou da Sara Falcone, com os Fiberbots, uma plataforma para robots que constroem estruturas cooperativamente ou as estruturas the DNA em grande escala.

Por outro lado, a evolução da capacidade e o conhecimento dentro da comunidade dos Fab Labs está quase a atingir o ponto em que empresas e universidades contratam para poderem aceder a essas mesmas competências e conhecimentos. Neste momento, já é possível fabricar rolamentos e num futuro próximo será mesmo possível fabricar chips. Neste último caso, seria um grande avanço. Nesta área, fez-se referência ao trabalho da Egípcia Amira Abdel Rahman, investigadora no Centro Bits and Atoms, no MIT, que consiste na simulação e optimização de design, usando uma técnica inovadora, que torna possível a simulação de estruturas de modo a otimizar designs ou o trabalho de Joseph Choma, design topológico, fundador da Design Topology. bem como destes robots. A sua ideia/estratégia continua a mesma: “atoms stay, information flows in to make3. Entretanto, informou que nos Estados Unidos foi aprovada uma lei que determina o acesso universal à fabricação digital como um direito.

Insistiu que nós somos o grupo que está a criar o futuro tal como se fez com o computador. Portanto, como organizar os próximos 25 anos? A sustentabilidade deste projeto pode passar pelos FAB Labs Low cost para a formação de professores na área da educação, pode passar pelo opensource, claro, em que, cada Fab Lab escolhe um projeto, adiciona valor e vende. Um exemplo disso foi a apresentação do projeto Mitt, do Nate e do Ben, que consiste no fabrico de próteses, que posteriormente, cada Fab Lab pode redesenhar o acessório, tendo conta o utilizador final, e revendê-lo.

Por outro lado, a gestão de um FAB LAB é fundamental e neste caso o GITTLAB é uma ferramenta muito útil, que o Neil utiliza no seu laboratório, faltando apenas a componente física RFID para controlar o acesso às máquinas, tendo em conta os conhecimentos do utilizador, sobretudo nos laboratórios com muitas máquinas e utilizadores. Um outro exemplo é o gestor de um fab Lab mais completo, Fabman.

Foram vários os projetos apresentados ao longo do FAB15, de diversas áreas, da educação à formação, passando pelos produtos. No área da educação e divulgação do conceito de FAB LAB, foram apresentadas sugestões de atividades que envolvem os workshops, bootcamps, dias abertos, formação individual para cada professor e a adopção projectos como o ifurniture, tendo sido igualmente reforçada a importância de trazer empresas e profissionais para a comunidade. Com máquinas mais simples e baratas é possível atrair mais público, incluindo o feminino, que se interessa por projetos mais criativos com aplicação no dia-a-dia, como por exemplo, a goforges e a sillhouete, ou o projeto opensource knitting machine. A área dos jogos e brinquedos é outra forma de atrair público mais jovem. O FabriAcademy foi outro ponto alto neste evento: a olhar com atenção para o futuro deste projeto porque tem muito potencial,

Neste FAB15 os fab labs móveis, incluindo o egípcio, Fab Lab on wheels, estiveram em força com diversas ideias e projetos em ação. O Fab Lab de BRNO apresentou o seu mega camião de carga FAB LAB mobile: 270000 euros de investimento: com um custo anual de 4000 em recursos e materiais, com a desvantagem de ser difícil de estacionar, não tendo conseguido atingir os 10000 alunos/ano mas apresentou atividades robustas que permitiram espalhar a palavra. O fab lab belga apresentou a sua caixa que fica na escola durante um mês. O projeto evoluiu de modo a que agora, ficam apenas as máquinas que o professor solicita. E claro, no meio da discussão, outras ideias foram surgindo como: um fab lab num comboio, num barco… Os fablabs móveis atingem diversos objetivos: motivam as escolas e passam a palavra, até a pessoas que não querem saber do que se trata, espalham o conceito, estimulam a utilização destes equipamentos e processos. Neste processo de divulgação, convém realizar actividades como: jogos e brinquedos, costura e roupa, Hackathons, reuniões gigantes, anunciar jornadas ao logo da região, participar em projetos de caráter humanitário, etc.

Na sessão com o grupo do fablabs.io, reuniu-se um grupo enorme de interessados sob o tema da avaliação dos fabs, respetiva acreditação e sustentabilidade, liderado por Norella Coronell e Luciano Betoldi, sob o tema: Regional Networks and Fablabs.io. Foi debatida a necessidade de haver grupos regionais para facilitar a verificação anual sobre se o Fab Lab está de facto a operar segundo os principio básicos anteriormente apresentados pela Marta Ajmar. Assim, haveria maior consistência e robustez do projeto, poderia haver suporte para angariação de fundos e melhor trabalho em equipa. Neste capitulo da sustentabilidade económica, surgiu um exemplo interessante: uma equipa de basqueteball a apoiar um Fab Lab e a sua comunidade.

O Neil referiu-se à possibilidade dos fabs seguirem as orientações propostas pelas Nações Unidas envolvendo-se me projetos diretamente ligados à sustentabilidade do Planeta. Há um desafio maior e mais difícil que será o primeiro fab lab autosustentável, uma vez que vive fora da economia tradicional.

A segurança dentro dos Fab Labs foi sendo abordada de modo informal em conversas ou nos diversos workshops que foram acontecendo e eram de facto muitos e de excelente qualidade, mas não houve nenhuma apresentação ou worksop explicitamente sobre o assunto. Alguns workshops foram repetidos porque o interesse era evidente. Um deles foi por demais interessante, o foldscope apresentado por Manu Prakash, um dos co-inventores.

O Daniel Smithwick, um dos finalistas do Fab Academy 2019 e responsável pela scopesdf.org, dinamizou as sessões em torno desse projeto. A ideia é criar uma base de dados com um conjunto de lições sobre fabricação digital, com dois tipos de objetivos: 1. que possam ser usadas em sala de aula, especificamente, por professores, em contexto real; 2. e que estejam diretamente ligadas à fabricação digital. Foram três workshops que o Daniel dinamizou, e de cada vez , o projeto era abordado com mais detalhe até que foram pedidas sugestões aos presentes. O último foi verdadeiramente interativo, tendo o resultado final tido a participação de todos, não só no tipo de atividades a disponibilizar, como nas estratégias futuras para o projeto. E era isso que o Daniel estava à procura, contribuições, e conseguiu, procurando tornar o projeto mais ajustado à realidade das necessidades de gestores, utilizadores dos fabs e comunidade escolar: a ideia final será criar um plano de educação/atividade que promova a fabricação digital.

A Marta Ajmar apresentou uma ideia genial, o Museu do Fazer que guarda o design desenvolvido no passado e presente, com a ideia de que pode ser usado no futuro. Vai abrir em Londres em 2021 um museu dedicado ao design do passado. Fez uma referência à filosofia dos Fab Labs, relacionando-a com pensadores e com o mote da educação nos dias de hoje, nomeadamente, quanto à necessidade da educação que envolva o corpo por inteiro: palavras sábias.

Outro projeto de referência foi a construção cooperativa e colaborativa da Nefertiti pela equipa do Todd Blatt.

A Toby Bothel, no WS que dinamizou falou do modo como tem trabalhado com uma escola TIES, cujo mote é Our Work Is About Transforming Education for All Learners, procurando que os alunos tomem contacto direto com a água e desenvolvam o interesse pelos recursos marinhos, utilizando ferramentas digitais. Os alunos tanto abordam a topografia do rio como usam um ROV open source, sea under water robotic, como forma de promover uma educação autêntica através de problemas reais.

A Seeeds, sediada em Shenzhen, mostrou como os Fab Labs se podem conectar através da sua nova estratégia e como se podem ligar à indústria. Esta equipa, representada pelo Eric Pan e pela Violet Su, está realmente interessada no projeto fab labs e comprometeu-se a estabelecer uma relação mais estreita para que os Fab labs tenham acesso mais rápido e especifico aos materiais que são necessários, não só durante a Fab Academy como no desenvolvimento dos projectos. No workshop, como na apresentação que dinamizaram mostraram como, ao alterarem a sua estratégia, se aproximaram do espírito dos Fab labs. A estratégia agora é mais ligada às necessidades locais porque reconheceram que ao continuarem pelo caminho do desenvolvimento do produto são facilmente capturados/copiados por outras empresas bem maiores. Assim interessa-lhes ligarem-se a quem está no terreno para responderem às necessidade locais. Em vez de um produto global, querem trabalhar com as necessidade locais. A ideia é então, continuar a ser uma comunidade global, mas que agora trabalha localmente e essa estratégia alinha-se com o espírito dos Fab Labs: como dizia o Neil, estamos a evoluir e não a revolucionar.

Quanto a anúncios, para além da wikifactory e a Fabfoundation.io anunciarem uma parceria de trabalho para o futuro, a Seeeds também o fez, o Fiore apresentou o novo site, e ainda foi anunciado o país para 2022, México. Foi feita uma cerimónia muito criativa em que se passou a pasta do FAB16 para a equipa do Canadá: o próximo realizar-se-á entre os dias 25 de julho e 2 de agosto 2020, em Montreal. Logo a seguir, 2021, será a vez do Fab17, no Butão.

E claro os graduados deste ano!

Depois destes dias intensos em El Gouna, seguiram-se os dois últimos no Cairo, no Fab Festival. Na manhã de um de agosto, deu-se uma longa e profícua discussão sobre os temas abordados em El Gouna e durante a tarde visitámos os projectos em cada stand. Por fim, no último dia, 2 de agosto, realizámos visitas muito interessantes aos Fab Labs locais e a outros laboratórios espalhados pelo Cairo.

Mais fotos e videos da conferência, procurar por: “Fab15 Conference” no facebook.

Uma notícia breve que resume o FAB15 mas em ING: https://wikifactory.com/+wikifactory/stories/wikifactory-fab-labs-partnership-announced-during-fab15-conference-in-egypt

1Se as pessoas tiverem acesso a tecnologia elas farão coisas extraordinárias

2Fab Labs com o custo de um milhão de dólares

3Os átomos ficam a informação entra para organizá-los para inventar